Paulo Cesar Pereira
(astrônomo do Planetário da Gávea)
pcpereira@rio.rj.gov.br
CURIOSIDADE
Desde os primórdios da civilização, o céu despertou a curiosidade dos habitantes de nosso planeta. Inicialmente, viam no céu um gigantesco calendário, que os ajudava a determinar o melhor momento para o plantio, a colheita, a pesca ou, ainda, ajudava a medir a duração das longas viagens na busca por alimento. Naquela época, desprovidos de um senso de observação mais atento dos corpos celestes, voltavam-se apenas para o lento movimento do Sol e da Lua por entre as constelações, hoje conhecidas como constelações zodiacais. O motivo para tal preferência era bastante aceitável. Tanto o Sol quanto a Lua são astros muitíssimo mais brilhantes que as estrelas. Portanto, seus movimentos eram mais facilmente acompanhados por qualquer pessoa. Assim, por séculos, as estrelas receberam pouca ou nenhuma atenção de nossos ancestrais, a não ser pela criação de um conjunto de constelações, apoiada, em boa medida, num rico sistema de mitos e lendas.
É bem provável que, com base na mera observação a olho nu, tenham chegado à conclusão de que as estrelas fossem estáveis e, eventualmente, eternas. Essa aparente tendência à estabilidade que as estrelas passam os enganou e continua enganando. É a impressão que carregamos desde criança e que, muitas vezes, permanece na idade adulta. Muitos de nós imaginam que nada podemos saber ou supor sobre as estrelas que vemos de noite. A observação mais atenta do céu noturno nos revela bem mais do que poderíamos supor.
Quantas vezes, admirando o céu estrelado, não nos damos conta das variadas cores? Estas nos revelam as temperaturas das estrelas. Estrelas avermelhadas são bem menos quentes que as estrelas azuis ou brancas. Um outro aspecto interessante diz respeito à concentração de estrelas numa região específica do céu, localizando o plano de nossa Galáxia. Como milhares de estrelas estão concentradas numa pequena parte do céu, resulta que esta região é bem mais clara que o resto do céu, apresentando, assim,
um aspecto leitoso. Esta é a Via Láctea, que é também o nome de nossa Galáxia.
Apesar de termos a sensação de que o céu é eterno e tranquilo em sua aparência, a realidade é bem diferente. Tal constatação começou a emergir apenas com o surgimento dos potentes telescópios, a partir do século XVIII. A aparente imutabilidade dos céus não correspondia mais à realidade. Enquanto estrelas novas surgem em vários cantos do Universo, outras tantas, como o nosso Sol, se encontram num estágio que poderíamos chamar, vulgarmente, de meia-idade. Há, ainda, estrelas que, nesse exato momento, estão em seus estágios terminais, podendo dar seus últimos suspiros de forma calma, ou bem violenta, passando por explosões cataclísmicas.