Palavra de especialista
A Vida das Estrelas Publicado: 17 Abril 2009 | Última Atualização: 26 Setembro 2018

Paulo Cesar Pereira
(astrônomo do Planetário da Gávea)
pcpereira@rio.rj.gov.br

 

CURIOSIDADE

Desde  os  primórdios  da  civilização,  o  céu despertou a curiosidade dos habitantes  de  nosso  planeta.   Inicialmente,  viam  no céu um gigantesco calendário,  que os ajudava a determinar o melhor momento para o plantio, a colheita,  a  pesca ou, ainda, ajudava a medir a duração das longas viagens na busca por alimento. Naquela época, desprovidos de um senso de observação mais  atento dos corpos celestes, voltavam-se apenas para o lento movimento do  Sol  e  da  Lua  por  entre  as  constelações,  hoje   conhecidas  como constelações   zodiacais.  O  motivo  para  tal  preferência  era  bastante aceitável.  Tanto  o Sol quanto a Lua são astros muitíssimo mais brilhantes que   as   estrelas.   Portanto,   seus  movimentos  eram  mais  facilmente acompanhados por qualquer pessoa. Assim, por séculos, as estrelas receberam pouca ou nenhuma atenção de nossos ancestrais, a não ser pela criação de um conjunto de constelações, apoiada, em boa medida, num rico sistema de mitos e lendas.

É bem provável que, com base na mera observação a olho nu, tenham chegado à conclusão  de  que  as  estrelas fossem estáveis e, eventualmente, eternas. Essa  aparente tendência à estabilidade que as estrelas passam os enganou e continua  enganando.  É  a  impressão  que  carregamos desde criança e que, muitas  vezes,  permanece  na idade adulta. Muitos de nós imaginam que nada podemos  saber  ou supor sobre as estrelas que vemos de noite. A observação mais atenta do céu noturno nos revela bem mais do que poderíamos supor.

Quantas  vezes, admirando o céu estrelado, não nos damos conta das variadas cores?   Estas   nos   revelam   as  temperaturas  das  estrelas.  Estrelas avermelhadas  são  bem  menos  quentes que as estrelas azuis ou brancas. Um outro  aspecto  interessante  diz  respeito à concentração de estrelas numa região  específica  do  céu,  localizando  o  plano  de nossa Galáxia. Como milhares  de estrelas estão concentradas numa pequena parte do céu, resulta que  esta  região é bem mais clara que o resto do céu, apresentando, assim,
um  aspecto  leitoso.  Esta  é  a  Via Láctea, que é também o nome de nossa Galáxia.

Apesar  de  termos  a  sensação  de  que  o céu é eterno e tranquilo em sua aparência,  a  realidade é bem diferente. Tal constatação começou a emergir apenas   com  o  surgimento  dos  potentes  telescópios, a partir do século XVIII. A aparente imutabilidade dos céus não correspondia mais à realidade. Enquanto estrelas novas surgem em vários cantos do Universo, outras tantas, como  o  nosso  Sol,  se  encontram  num  estágio  que  poderíamos  chamar, vulgarmente,  de  meia-idade. Há, ainda, estrelas que, nesse exato momento, estão  em  seus  estágios  terminais,  podendo dar seus últimos suspiros de forma calma, ou bem violenta, passando por explosões cataclísmicas.