Palavra de especialista
Delinquencia Digital Publicado: 13 Janeiro 2011 | Última Atualização: 19 Setembro 2018

Dra. Patricia Peck Pinheiro

Pais e escolas precisam atuar diretamente no problema crescente brasileiro de “deliquente digital”. A nova geração de filhos nascidos e criados com momos tecnológicos, superprotegidos, onde o mundo real inseguro os levou a levar uma vida mais virtual, na internet, com amigos em redes sociais, mas que exige também cuidados.

Tem crescido a quantidade de incidentes envolvendo jovens na Internet, principalmente relacionados a uma “má educação digital”. Usam o conhecimento de tecnologia para fazer o mal a outras pessoas, muitas vezes colegas de escolas, professores ou até desconhecidos. Além de se exporem excessivamente na web, também expõem os familiares, colocando fotos que podem ir da ridicularização até gerar um risco para atrair um bandido, um sequestrador.

Pais e Professores analógicos precisam orientar sobre boa conduta digital. Dar ferramenta sem educar é um grande perigo. Mais do que usar tecnologia em sala de aula, é ensinar sobre as regras do jogo, sobre as leis vigentes, sobre ética no mundo que está cada vez mais digital.

A liberdade de expressão exige responsabilidade. O Judiciário Brasileiro tem punido severamente os casos que param na Justiça, em geral condenando a indenizar, valores ao redor de R$ 15 mil reais dependendo do caso, além de aplicar medida sócio-educativa com base no Estatuto da Criança e do Adolescente. Mas a sequela fica na vida da vítima! Dinheiro nenhum vai limpar o nome e a honra dela na Internet, além dos danos psicológicos de quem sofre com cyberbullying, por exmemplo.

Precisamos formar uma geração digital com foco na construção do positivo e não no uso da tecnologia para fins ilícitos ou de má-fé. A Internet tem o poder de perpetuar o conteúdo. Os jovens que já vivenciam esta realidade já sentem seus reflexos diretos em sua vida digital. Este é o papel e o propósito do Movimento “Criança Mais Segura na Internet”, que tem como missão formar jovens, professores e pais no uso ético, seguro e legal da tecnologia. Inclusive, é possível que a Escola agende uma palestra gratuita, bem como que os interessados realizem o curso de formação de Voluntários à Distância, com orientação e recebimento de material didático e pedagógico para disseminação do conhecimento.

Os pais precisam fazer parte do processo de iniciação de seus filhos no ambiente eletrônico, especialmente quando envolver redes sociais. Assim como se comprar um videgame vão instalar, mostrar como funciona, jogar uma partida juntos, o mesmo deve ocorrer na Web. Hoje, o jovem acaba por acessar sozinho, falta a “assistência” inicial necessária para ensinar a usar do jeito certo e sem riscos.

Além disso, é fundamental o uso de um software de controle parental. Isso não resolve o problema, mas diminui o risco dos próprios pais serem responsabilizados por “culpa in vigillando”. Como a Internet não tem programação de conteúdo por faixa etária e horário, como ocorre em outras mídias, cabe aos pais definir quais os sites que entendam adequados para navegação dos filhos sob a sua supervisão. Claro que se o jovem quiser burlar a medida de segurança, ele consegue, pode acessar pelo celular, da casa de amigos, até de lanhouse ou cybercafé, mas quando isso ocorrer, estará claro que houve a intenção de descumprir a regra estabelecida. Assim, não há como dizer que os pais não estavam cumprindo com seu dever de zelo e orientação.

Por isso, diálogo é fundamental. Ensinar o jovem a ter visão crítica, a enxergar que a “moda passa e o conteúdo fica na internet”. Que as atitutdes de hoje, na web, refletem no futuro do indivíduo. O trabalho conjunto de apoiar o início (assitência), usar software de controle parental (monitorar) e ensinar o uso certo (discernimento) permitem reduzir grande parte dos incidentes.

Temos que agir! Passamos a ter uma reputação online a zelar. O que antes era limitado em tempo e espaço agora ocorre sem fronteiras, se espalha pelo mundo rapidamente. Por isso, ensinar a prática da prevenção, formar muito mais que informar. Já vivemos em rede, todos conectados, e para que seja saudável é essencial assumir um pensamento comunitário (oposto aos últimos anos de individualismo exarcebado), com foco no cuidado com o outro, no meio ambiente, na própria postura em Redes Sociais deve fazer parte da prática diária de cidadania. Mãos a obra, ou melhor, mãos na máquina!
 

Dicas para evitar a Delinquencia Digital
·         Dar assistência no uso das ferramentas tecnológicas (ensinar sobre as regras do jogo, ética e leis em vigor);
·         Usar um software de controle parental;
·         Criar perfis no computador quando usado por mais de um integrante da família para saber quem está fazendo o que (e isso apoia também dar maior liberdade a quem tem mais maturidade e idade);
·         Fazer busca periódica na Internet com nome dos filhos (inclusive busca por imagem);
·         Frequentar a vida digital dos filhos (falar com eles pelo comunicador instantâneo, visitar eles no Blog e Comunidades que participam);
·         Orientar sobre excesso de exposição (especialmente para que evitem publicar fotos mais íntimas e de situações da família que possam gerar riscos até de segurança, ex: atrair sequestro, assalto, outros);
·         Ensinar velhos conselhos que se aplicam ao mundo digital: não falar com estranhos na web, não pegar carona em qualquer comunidade, não cobiçar e copiar o conteúdo do próximo, não fazer aos outros o que não gostaria que fizessem com você, só usar fotos autorizadas pela pessoa fotografada e “diga-me com quem navegas que te direi quem és”.

Patricia Peck Pinheiro Advogados – Dra. Patricia Peck Pinheiro, advogada especialista em Direito Digital, sócia da PPP Advogados, autora do Livro Direito Digital pela Editora Saraiva (www.pppadvogados.com.br). Ver: www.criancamaissegura.com.br