Palavra de especialista
Glaucoma é uma doença que também pode atingir as crianças Publicado: 13 Abril 2012 | Última Atualização: 19 Setembro 2018

Apesar de rara nos pequenos, a doença exige atenção dos pais aos sintomas e ação rápida. Trata-se de uma das principais causas de cegueira infantil

Olhos grandes em relação ao rosto – maiores, inclusive do que os de um adulto – e sempre úmidos (lacrimejamento constante), desconforto exagerado com a luminosidade (fotofobia) e, por vezes, opacidade leitosa nas córneas. Os principais sinais e sintomas do glaucoma pediátrico são bastante característicos e, com atenção, os pais podem ser capazes de identificar a doença precocemente. O glaucoma caracteriza-se pelo aumento da pressão intraocular do paciente, que leva a uma lesão no nervo óptico provocando perda progressiva do campo visual sem outros sintomas.

Apesar de rara, a forma congênita – quando o bebê nasce com o glaucoma – é uma das principais causas de cegueira infantil. “Quanto mais cedo é feito o diagnóstico e o início do tratamento, menores são as chances de que o glaucoma pediátrico evolua para a perda total da visão. Geralmente, a indicação de tratamento é cirúrgica. E, após o procedimento, pode haver necessidade do uso de colírios para controle da pressão intraocular”, orienta o Dr. Garone Lopes Filho, oftalmologista e chefe do serviço de Glaucoma do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. 

Estima-se que a principal causa de glaucoma congênito sejam as relações consanguíneas, isto é, quando os bebês possuem pais parentes de primeiro ou segundo grau. A doença é considerada secundária quando o uso de medicamentos, más-formações, síndromes, tumores ou outras doenças provocam o aumento da pressão intraocular que afeta o nervo óptico e é considerada primária quando estas situações não forem encontradas. O glaucoma pediátrico pode ter origem ainda em traumas como acidentes, tratamentos medicamentosos com corticoides ou aparecer após uma cirurgia de catarata congênita. Entretanto, é importante ressaltar que, normalmente, o glaucoma do adulto surge após os 40 anos e, a cada década, torna-se maior o risco de desenvolver a doença.


Diagnóstico e tratamento

De acordo com Lopes Filho, não existem exames específicos durante a gravidez ou mesmo procedimentos a serem feitos ainda na maternidade para detectar se o bebê tem glaucoma congênito. “Na verdade, os pais devem ficar atentos e levar seus filhos a consultas de rotina com o pediatra e, se necessário, consultar um oftalmologista”, orienta o especialista.

Os sinais do glaucoma pediátrico são, normalmente, bastante perceptíveis a olho nu até cerca de três anos de idade. Quando o glaucoma se instala na criança após esta faixa etária, torna-se um pouco mais difícil para os pais perceberem a doença, pois não há um aumento tão perceptível dos olhos. “A confirmação do diagnóstico nas crianças acontece por meio do exame oftalmológico realizado por um especialista. Devem ser realizados ainda alguns exames específicos, sob anestesia geral ou sedação, para avaliar o grau de evolução da doença e de lesão ao nervo óptico”, explica Lopes Filho.

Em geral, a cirurgia deve ser realizada tão logo o glaucoma seja diagnosticado. O procedimento tem como objetivo desobstruir um canal pré-existente nos olhos para auxiliar o escoamento do líquido intraocular, que é responsável pelo aumento da pressão. Caso não haja adequado controle da pressão ocular, outras técnicas cirúrgicas podem ser necessárias, incluindo alguns implantes de pequenas válvulas de drenagem.

O tratamento pode ser complementado por meio do uso contínuo de colírios que auxiliam no controle da pressão intraocular e da lesão do nervo óptico. “Assim como nos adultos, o principal desafio para retardar a evolução do glaucoma nas crianças nesta fase da terapia é a adesão ao tratamento, pois os colírios devem ser usados nos horários certos e de maneira contínua”, salienta o especialista.