Férias em casa com crianças? Como tornar julho mais leve, criativo e sem culpa |

Planejar o dia a dia das crianças durante as férias pode prevenir o estresse e transformar a rotina em um período de vínculo e desenvolvimento. Pedagoga dá dicas práticas e possíveis.

Férias escolares são, para muitas famílias, sinônimo de tempo livre, casa cheia e o desafio de entreter as crianças em meio à rotina. Embora pareça simples improvisar no dia a dia, a falta de planejamento pode transformar o que deveria ser um tempo leve em um período estressante, tanto para os pais quanto para os filhos.

“Quando a gente se organiza minimamente, tudo flui melhor. Não é sobre montar uma agenda rígida, mas ter uma ideia do que pode acontecer”, explica Mariana Ruske, pedagoga e fundadora da Senses Montessori School. Segundo ela, o segredo não está em inventar grandes programações, mas em valorizar o que já está no cotidiano.

O que fazer nas férias em casa?

As atividades mais potentes para o desenvolvimento infantil são, muitas vezes, as mais simples: regar plantas, preparar uma receita juntos, separar os brinquedos, lavar frutas, criar colagens com folhas do jardim. “Crianças adoram tarefas com propósito. Quando elas participam da rotina com sentido, se sentem úteis, pertencentes e mais seguras”, afirma a pedagoga.

Para estimular a criatividade e a autonomia, Mariana sugere investir em quatro pilares: leitura, passeios, natureza e brincar livre. “A criatividade nasce do repertório real. E é no tempo livre, sem estímulos prontos, que ela floresce”, diz.

Muitas vezes, os pais se sentem culpados por não oferecerem atividades o tempo todo. Mas, segundo a especialista, o equilíbrio está em observar o ritmo da criança. “Há momentos em que ela quer seguir regras e interagir, e outros em que só precisa explorar. O adulto pode preparar o ambiente com opções para ambos os casos”, orienta.

Tarefas do dia a dia são oportunidades valiosas para o desenvolvimento socioemocional. “O que para o adulto é enfadonho, como lavar louça ou dobrar panos, para a criança é fascinante. Ela está conhecendo o mundo, entendendo esforço, erro, processo. Isso constrói autoestima, empatia e responsabilidade”, afirma Mariana.

Outro ponto sensível do período de recesso é o uso de telas. “A gente precisa ser honesto: muitas vezes, a tela é a pausa possível. E tudo bem. Mas, o ideal é que não seja o plano principal das férias”, alerta. A especialista recomenda que as telas sejam usadas de forma eventual e com intencionalidade como um momento em família para ver um filme ou jogo. “O tempo da criança precisa ser preenchido com vida real: se mover, brincar, participar, se entediar, se regular”, completa.

Cinco ideias simples e eficazes para fazer com as crianças em casa:

• Classificação de objetos: separar grãos, botões ou conchas por tipo e cor desenvolve foco e coordenação.
• Tarefas na cozinha: lavar frutas ou limpar a mesa estimula os sentidos e a independência.
• Arte com elementos da natureza: folhas, pedras e galhos viram materiais criativos.
• Cantinho da leitura: livros acessíveis e momentos livres para explorar histórias.
• Tempo de ócio: deixar a criança sonhar, observar e brincar livremente.

Mais do que entreter, as férias podem ser uma pausa de presença e conexão. “Estar com a criança com atenção e respeito faz toda diferença. E vale lembrar: às vezes o melhor plano é deixar o dia se desenrolar com leveza”, conclui Mariana.

Mariana Ruske | Pedagoga da Senses Montessori School

Mariana é pedagoga há 12 anos, especializada no método Montessori e fundadora da Senses Montessori School, referência em bilinguismo e educação Montessori no Brasil. Mãe de dois meninos, sua trajetória inclui formações em engenharia e astrofísica antes de encontrar sua vocação na pedagogia, impulsionada pela paixão pelo cérebro humano e seu desenvolvimento. Palestrante e ativista, dedica-se a disseminar informações sobre a proteção infantil contra abuso e violência. Defende que a educação infantil é a base do futuro e vê na Pedagogia Científica de Maria Montessori a ferramenta ideal para um desenvolvimento integral.