Personagem de “Red – Crescer é uma Fera” usa um adesivo de insulina; pais precisam ficar atentos aos sintomas, diz Monica Andrade Lima Gabbay, da SBD
A nova produção da Pixar, “Red – Crescer é uma Fera” (que estreou em 10 de março) trata da entrada da garota Mei na adolescência – e dos conflitos que vêm com essa fase: aprender a controlar as emoções, a lidar com mães superprotetoras e tantas outras. Mas o filme ainda chama atenção para uma condição que, no Brasil, afeta cerca de 100 mil jovens: a diabetes tipo 1.
Uma das colegas de escola de Mei (que é uma menina canadense, filha de chineses e aluna da 8ª série) está usando um “insulin patch” – que é um adesivo "inteligente", que monitora o açúcar no sangue e administra insulina quando os níveis chegam a um determinado ponto. Com tal personagem, a animação contribui para aumentar a conscientização para a incidência de diabetes tipo um em crianças e adolescentes. O Brasil é o terceiro país do mundo em número de pessoas de zero a 19 anos com diabetes tipo 1.
“O filme traz para a tela a lembrança de que o diabetes tipo 1 tem aumentado, especialmente na faixa das crianças pequenas. E de que nós precisamos nos acostumar com uma criança na escola que aplica insulina com a sua caneta, que usa bomba de infusão de insulina. Ela tem que ser acolhida”, diz a coordenadora do Departamento de DM1 da Criança e do Adolescente da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), Monica Andrade Lima Gabbay. Ela destaca que os recursos tecnológicos e as novas insulinas hoje à disposição permitem que as crianças tenham uma qualidade de vida igual à de crianças que não têm diabetes. “Essa criança vai à escola, pode participar de todas as atividades, praticar esporte. E o que temos de fazer é ensinar a família dessa criança a usar insulina.”
“A diabetes tipo 1 é uma doença auto-imune. Isso significa que o próprio organismo acaba produzindo anticorpos contra a célula beta, que produzem insulina no pâncreas. Os sintomas que a criança manifesta são, por exemplo, beber muita água, urinar bastante, irritabilidade e choro frequente, não conseguir ganhar peso – pelo contrário, a criança perde peso”, destaca Monica. “Com o tempo, se os pais não percebem esses primeiros sintomas, a criança acaba tendo enjôo, vômito e pode chegar a um quadro de cetoacidose [processo que resulta no acúmulo de componentes que deixam o sangue ácido].”
O tratamento da DM1 em crianças, diz Monica, se vale de doses muito pequenas de insulina – o que permite que se use as chamadas “canetas” aplicadoras de insulina e as bombas de infusão. Para crianças com menos de 5 anos, a bomba de infusão é a mais indicada: “Porque a bomba consegue utilizar a insulina rápida em doses muito pequenas, fracionadas". "Além disso, a bomba já se comunica com um sensor, que mede a glicose de maneira contínua o que permite suspender automaticamente a infusão de insulina quando a glicose cai muito rapidamente, evitando assim a hipoglicemia e nas mais modernas até lançar mão de bolus de correção automático.
"Uma preocupação muito importante, quando se trata de crianças pequenas, é acertar a dose correta de insulina, para evitar a queda do açúcar no sangue", complementa.
Com esses dados, o médico pode estipular qual a quantidade de insulina que a criança ou o jovem vai tomar, acrescenta Monica. Ela diz também que para crianças pequenas a indicação é de que se faça uso das insulinas mais modernas, as chamadas insulinas análogas de ultralonga ação, que atuam de modo contínuo fazendo papel de basal e os análogos de insulina de ação rapida, denominada insulina bolus, para ser usada nas refeições, de acordo com a necessidade. Por isso é fundamental utilizar uma caneta que contenha meia unidade de insulina: tanto na seringa como nas canetas mais comuns, a dose de insulina vai de uma em uma unidade, e as crianças são bastante sensíveis à insulina”.
A SBD vem desenvolvendo uma campanha a ser realizada em escolas, tanto privadas como públicas, que deverá envolver capacitação de funcionários para que auxiliem as crianças que precisem ter a glicemia medida. “É preciso colocar a criança que tem diabetes no contexto da escola como uma criança saudável como qualquer outra”, diz a médica.